O quê dizer de uma bebida que é oferecida aos Deuses? de uma bebida que, comparativamente ao vinho, ganha em muito no quesito tradição. Como não se encantar por um líquido que, de tão consumido, um dia já foi considerado alimento? pois é amigos, hoje é dia de destilar a mais querida e tradicional bebida alcoólica oriental. Hoje é dia de Saquê na mente!

A história de como surgiu o saquê não é clara, mas sabe-se que em meados do século V a.C, no período Nara, os produtores não conheciam técnicas apuradas de fermentação, e o saquê era feito com um pouco de água e álcool, em uma combinação que lembrava uma porção de mingau. essa papa de arroz era então mascada para que a saliva fermentasse o preparo, numa técnica conhecida como “kuchikame no sake” (saquê mastigado na boca). em seguida era cuspida em tachos, para só então iniciar o preparo da bebida.

Até o século passado o saquê era produzido artesanalmente. O “kuchikame no sake” foi aos poucos sendo aprimorado (e devidamente substituido). O arroz era lavado, colocado em grandes tinas para cozinhar, e só após a etapa de fermentação a pasta resultante era ralada, misturada manualmente, até chegar ao produto final. No entanto, atualmente os grandes fabricantes japoneses ainda utilizam métodos que remetem ao passado, mas nada gritante, pois a produção caseira do saquê hoje em dia é proibida por lei.

O consumo do saquê no Japão vai muito além de encher a cara e sair por ai cambaleando, é uma tradição, e o seu uso está associado a grandes comemorações como ano novo, casamentos e até mesmo em encontros românticos. na maioria das vezes é servido quente (entre 40° e 50° C), mas pode ser apreciado gelado, misturado com outras bebidas, dando origem a coquetéis muito interessantes.

Beber saquê não é pra qualquer um! dentre os fermentados, ela é a bebida que apresenta o maior teor alcoólico (cerca de 20%). contudo, outros fermentados como o vinho e a cerveja andam tomando o espaço da saquê no comércio oriental (de 30 mil fabricantes de saquê no japão, hoje não restam nem 10% desse número). talvez um reflexo da globalização e inserção da cultura ocidental no mundo, mas isso não quer dizer necessariamente que a bebida esteja em declíneo. o saquê produzido na província de Hyogo por exemplo, chega a custar o valor de 300 mil ienes (aproximadamente 6000 reais).

Principais tipos de saquê:

  • junmai-shu: O saquê mais puro de todos. feito com água, arroz e koji (arroz fermentado separadamente, e que determina o gosto e o aroma do saquê). livre de álcool.
  • honjozo-shu: sofre um pequeno acréscimo de álcool, deixando-o mais suave.
  • ginjo-shu: utiliza 60% do formato original do arroz, afim de se diminuir gorduras e proteínas. fermentado em temperaturas muito baixas por muito tempo.
  • daiginjo-shu: o arroz é polido em até 65% do seu tamanho original. saquê muito trabalhoso em todas as suas etapas de produção.
  • namazakê: saquê não pasteurizado. guardado na geladeira.
  • nigori-zaquê: saquê que não é filtrado.

Curiosidades:

  • Reza a lenda que o descobrimento do saquê se deu por acaso. um aldeão desatento deixou um arroz cozido destampado e o mesmo acabou morfando. o aldeão também esqueceu de jogar o arroz fora e quando se deu conta, notou que houve uma fermentação, formando uma bebida mais pastosa que líquida, mas muito saborosa. logo a fama se espalhou, e o fungo responsável por essa fermentação ganhou o nome de “kamutachi”, o qual foi substituido pela denominação “koji”.
  • a maneira mais tradicional de se servir o saquê é em xícaras quadradas de madeira chamadas de “masu”, o que confere um sabor suave amadeirado (servir entre 20 e 40°C).
  • na técnica do “kuchikami no sake” (saquê mastigado na boca), algumas províncias rurais japonesas buscavam uma maneira inusitada de “purificar” sua bebida. só jovens mulheres virgens poderiam mastigar o arroz pois eram consideradas enviadas dos deuses na terra (virgem? quê isso mesmo?).
  • No Japão, quando não se tem desculpa para justificar um porre vergonhoso, basta dizer “eu estava bebendo saquê”. é quase certo que o bebum será perdoado…
  • o termo saquê é muito abrangente no japão e pode significar qualquer bebida alcoólica. é utilizado então o termo “nihonshu” (saquê japonês) ou “seishu” para se diferenciar.

no livro de receitas do etilicos.com nosso barman apresenta uma deliciosa caipirinha de saquê. vale a pena conferir!

Alguma curiosidade ou informação adicional sobre saquê, favor acessar nossos comentários. abraço a todos!

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