É curioso pensar como decisões do mercado podem atrapalhar o consumo de certos produtos, principalmente quando tal produto não é, de fato, um bem de consumo essencial (aquilo sem o qual não se vive. Ex: comida, água, vestimenta, habitação, etc). O vinho, por exemplo, apesar de ter quem não viva sem, entra no conjunto dos “não-essenciais”.

Qual o problema de não ser essencial?

Para o consumidor, quando algo passa a fugir do seu poder aquisitivo, passa-se a consumir o mesmo produto de marcas mais baratas, muda-se o produto a ser consumido, ou abadona-se o consumo. Já para o produtor, os estoques ficam mais tempo parados, e estoque parado é sinal de prejuízo, em vários fatores.

Onde entra a Argentina nisso?

vinhedo e cálice

Como sabemos bem a Argentina, e outros países do Mercosul, tem o vinho como sua principal referência no assunto bebida alcoólica. Porém o mercado interno vem passando por uma desaceleração no consumo desta bebida, segundo pesquisa divulgada pela Kantar World Panel.

Não faz muito tempo, viralizou na internet áudio do dono do restaurante de Mendoza (Argentina) conversando com pessoas de vinícolas e comentando os dados divulgados. Segundo ele, o panorama do que pode ter acontecido nos últimos anos foi que “entregamos o mercado de vinhos para a indústria cervejeira”. Completando a fala, ele diz: “Toda a estratégia de comunicação e marketing dos vinhos dos últimos anos foi o pior que vi na minha vida. Pegaram uma bebida popular e a transformaram em algo inacessível. As pessoas que tinham tomado vinho a vida toda começaram a ser criticadas por misturar o vinho com soda (água gaseificada), por colocar gelo, que não podiam tomar o vinho gelado. ”

Ele segue: “Aumentaram os preços de forma bastarda e deixaram as pessoas comuns de fora do mercado. Fizeram com que fosse vergonhoso abrir uma caixa de vinho tetrapack, e assim entregaram o mercado à indústria cervejeira. O marketing o vinho ficou em mãos de uns inexperientes de 30 anos, que não sabiam que tinham à frente tubarões da indústria cervejeira, educados e formados nos números do que é talvez a indústria mais ambiciosa, a mais violenta e eficiente do mundo”.

Em resumo, o mercado Argentino tentou “gourmetizar” o consumo de vinhos, e isso acabou afastando quem não se importa com um conjunto de regras e firulas vinculados a bebida, mas sim, quer apenas beber e se divertir. Querendo ou não, este é um alerta para mercados de outras bebidas, sobre como elitizar demais algo pode na verdade ser um tiro no pé.

Nosso mercado de bebidas

Aqui no Brasil o mercado de cerveja, por exemplo, vem se expandindo, mas percebe-se que em certos momentos e que certos rótulos não vale a pena pagar o preço que cobram. Com isso o mercado de puro malte produzido em larga escala vem retomando o espaço, principalmente usando o fator preço.

Fonte: Blog do Empreendedor

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