Todo mundo que aprecia uma boa cerveja se acha no direito de opinar sobre o que é certo e errado no consumo dela. Muita gente leva as paixões e gostos pessoais para o debate. Criando assim muitas respostas vagas e mitos sobre o modo correto de beber uma cervejinha. Com o intuito de sanar as dúvidas, o IG convidou alguns mestres cervejeiros que levantaram 10 dicas para apreciarmos de forma mais fiel a nossa loira gelada.

1. Gelada demais x gelada de menos
Gourmets e fãs de cervejas especiais afirmam que a bebida, quando servida em baixíssima temperatura, perde sabor e aroma. Por outro lado, grande parcela da população, consumidora das pilsens comuns, prefere a garrafa “trincando” de gelada. Difícil é dizer quem está correto. Como a forma de consumo é um hábito – e um prazer – o certo mesmo é fazer o que lhe agrada.

Cássio Piccolo, proprietário do bar Frangó, em São Paulo, pensa assim: “Não sou xiita em relação à temperatura. Acho que tudo depende da ocasião e onde você vai consumir. Uma coisa é beber em um ambiente com ar-condicionado, outra é numa praia, sob o sol”, pondera. De qualquer forma, é bom saber que mesmo as pilsens, as cervejas que devem ser consumidas mais geladas, começam a perder sabor quando estão abaixo de 4º C. “Tudo que é excessivamente gelado ou quente amortece as papilas gustativas e influencia no sabor”, explica Cássio, que prefere tomar cervejas encorpadas, como as trapistas, somente refrescadas, a cerca de 14º C, “como se faz com os vinhos”.

2. Como gelar mais rápido?
Preferências à parte, é bom saber artifícios para gelar o mais rápido possível qualquer tipo de cerveja. A dica serve para salvar quem não tem bebida gelada à mão (e quer beber), ou para aquela festa em que todo mundo leva uma caixa – sempre quente, obviamente – e a rotatividade de bebida é grande.
Freezer, freezer com a lata molhada, gelo, gelo com sal, gelo com álcool. São muitas as formas “infalíveis” de gelar rapidamente latinhas e long necks, mas qual é a mais eficiente?

Para o engenheiro químico Sidney dos Santos, trata-se apenas de combinar dois fatores: temperatura baixa e superfície de contato. “Colocar no freezer realmente é a forma de atingir a temperatura mais baixa possível, mas é mais demorado, porque o ar não é um bom condutor de temperatura. A forma mais rápida é colocar bastante gelo e água, para que ela envolva toda a embalagem da bebida e esfrie o líquido rapidamente”, explica. Mas ele alerta: dessa forma é impossível deixar a bebida mais gelada que 0º C grau. “Abaixo disso, também começaria a congelar”. E o sal? “O sal, assim como o álcool, junto com água e gelo, deixam a temperatura ainda mais baixa, tornando bem mais rápido o processo de gelar a cerveja”, completa.

E o que dizer daquelas geladeiras em bares com termostato marcando 3º ou 4º C negativos? “Não se pode esquecer que aquelas geladeiras são abertas o tempo todo e há muita reposição de vasilhames. Se as bebidas ficassem lá direto, com a porta fechada, iriam congelar”, explica Cássio. Segundo a Lorousse da Cerveja, a bebida congela a -2,5º C

3. A escolha do copo é importante?
Independente do tipo da cerveja, é importante que o copo seja, ante de tudo, incolor e transparente. Só assim é possível observar a coloração e a formação de espuma da bebida. O formato também faz diferença de acordo com o tipo da cerveja e, se bem escolhido, tende a potencializar suas características. “Não é um detalhe cosmético, faz uma enorme diferença. Do mesmo jeito que existem taças adequadas para cada vinho, com a cerveja ocorre o mesmo”, explica Cássio. Apesar de existirem modelos ideais para cada rótulo – não à toa as marcas desenvolvem e vendem tipos apropriados para seus produtos – algumas regras gerais podem ser seguidas:

– cervejas leves podem ser bebidas em copos tipo tulipa ou em taças com “pezinho” — ele impede que o calor da mão esquente o líquido.

– os exemplares mais aromáticos devem ser degustados em copos com bojo largo, que favorecem o desenvolvimento dos aromas.

– os rótulos weiss (feitos com trigo) têm alta carbonatação, grande formação de espuma e um fermento que fica no fundo da garrafa e que deve ser misturado à cerveja. Por isso, ser faz necessário usar um daqueles copos compridos e mais largos no topo, que comportam 500 mililitros, chamados de weizen.

– os populares copos americanos são úteis para beber cervejas leves bem geladas. Como é pequeno, o consumo do líquido é rápido e não dá tempo da bebida esquentar, mesmo com o calor das mãos.

– as de tipo champenoise, feitas com um método de fermentação semelhante ao do champanhe, devem ser bebidas nas taças indicadas para esta bebida, do tipo flûte.

4. Onde guardar?
“Uma premissa da cerveja é que quanto mais jovem ela for consumida, melhor. Então, armazenar não é aconselhado”, orienta Luciano Horn, mestre cervejeiro da Ambev. De qualquer forma, para guardar garrafas e latas, o melhor é mesmo a geladeira, ou, ao menos, um ambiente fresco e protegido do sol.

5. Latinha x garrafa
Muitos consumidores preferem a “cerveja de garrafa”. Mas a verdade é que não há nenhuma diferença entre este produto e o embalado em latinhas. “O processo de produção da bebida é igual. O que existe é uma pequena diferença de resistência da garrafa, que acaba retendo mais gás carbônico, mas isso é imperceptível ao paladar”, diz Luciano.

6. É melhor gelar a garrafa deitada ou em pé?
De preferência, em pé. Porque você tem um pouco de ar residual na garrafa e o oxigênio é prejudicial à cerveja, pois causa o envelhecimento do líquido. “A garrafa em pé diminui o contato com o ar. Mas a maioria das cervejarias hoje trabalham com o mínimo de oxigeno residual – diminuindo a diferença entre uma e outra posição para armazenar e gelar.

7. Que tal uma degustação?
Para começar, é indispensável que os copos estejam limpos e secos. O ideal é seguir uma linha para guiar a degustação: cervejas diferentes de um mesmo fabricante ou cervejas do mesmo estilo, mas de fabricantes diferentes. Escolhidos os rótulos, é indicado começar com as mais leves primeiro, partindo para as mais encorpadas e alcoólicas. Para aguçar os sentidos, é aconselhável que os participantes não tenham consumido bebidas alcoólicas no mesmo dia. Para perceber as características de cada bebida, é essencial que elas sejam servidas na temperatura adequada.

8. Quais as cervejas mais refrescantes?
Definitivamente, as do tipo larger, em especial as pilsens. E, vale lembrar, elas não se restringem às marcas populares – uma pilsen da República Tcheca, mais amarga, pode ser muito refrescante. Mas há outras opções. “Acho as bières blanches da Bélgica [feitas de trigo] excelentes pedidas para o calor. As cervejas de trigo da Alemanha também são bem refrescantes e as lambic com frutas também podem ser boa opção de aperitivo em dias quentes”, sugere Cássio.

9. Existe drinque com cerveja?
São poucos, mas existem. No México, a michelada é muito popular. Consiste de limão, um pouco de sal, cubos de gelo, cerveja pilsen e pimenta chilli em pó na borda do copo. Há variações da bebida em outros pontos da América Latina, que pode levar suco de tomate e outros temperos. Nos EUA também é possível encontrar variações de margaritas feitas com cerveja, assim como no Brasil alguns bares já se arriscaram a oferecer caipirinha de cerveja – o resultado é um refresco de cevada, com sabor diluído e “temperado” pelo limão.
10. O que é a cerveja “choca”?
Três efeitos indesejáveis na cerveja podem resultar numa bebida alterada, chamada popularmente de “choca”: a) perda de gás carbônico, por conta de algum defeito na tampa ou pelo “esquenta-esfria” da garrafa, que faz a tampa se contrair e expandir – e, consequentemente, escapar o gás; b) cerveja “velha” ou mal transportada ou armazenada e que perdeu suas características ideais; c) coagulação da proteína da cerveja – de novo por causa do processo de “esquenta-esfria” feito algumas vezes. Nesse caso, a bebida não tem sabor alterado, mas seu aspecto fica comprometido, levemente leitoso, num efeito chamado de turbidez.

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